Não, o Caminho não mudou... o que mudou foi a forma de caminhar! Neste blog compartilho pensamentos, textos sobre a Bruxaria Tradicional, Crenças Nativas, Magia Natural, Paganismo e Cultura Celta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

PRIMAVERA




Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

domingo, 25 de setembro de 2011

De vagar por Lontra Voadora


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Lembro-me de um de meus últimos trabalhos, onde escutava uma voz suave que dizia... De vagar querido, de vagar... Para quê tens tanta pressa, se mal sabes onde quer chegar.

O mundo só perde a graça para aquele que procura encontrar alguma graça no mundo. E que graça há onde a graça mascara a trapaça? Irônico é, em tua nefasta incredulidade, procurar algo que sabes não existir... Sofrendo por um motivo já conhecido por tua mágoa doída, motivo já flagrado tantas vezes na atenção intuitiva. Toda graça que há no mundo está a se exibir embaixo de seu nariz! Discreta em sua intensidade, indiferente ao que procura, caçoando de vossa prepotência imbecilizada.


Não se faz como tu queres, mas sim como se faria se tu nada fizesses, pois então o que seria a graça se não o que se desembaraça delicado ao balanço cuidadoso como o do galho ao vento? Pois, para que complicar o que já é tão difícil de tricotar, tentando traçar ou tracejar uma linha no invisível? Que servidão teria a ti o poder e a potencialidade se não houvesse o que se coloca abaixo os alçando em crescente staccato? Pondere! Do outro lado da moeda sempre há outro lado diferente ao vosso fardo, mas tão igual apenas por ser lado, e que, curiosamente, no conto sátiro da vida cotidiana, circunda o mesmo aro num giro lado a lado.


Tornar um até breve num continuum borbulhante, caudaloso e extasiante simplesmente para se refugiar do resmungo absurdo deste mundo reclamão. Em toda via e estrada há uma contramão, em toda mão dada há uma contra-via, uma solução esperando a água quente para escoar diluída pelo ralo de sua pia; Em vossa paspalhada, um beijo suplicante do destino falsário que tropeça em si mesmo... Tão errante quanto o berro de um camelo! Tão camelo quanto um burro insistente... E no final, quem poderia ter dito que nos encontraríamos ali, esperando que somente o aqui houvesse? Curioso? Não sei! Prefiro pensar como um golpe despretensioso.

A malícia apenas se empresta, não se toma, não se cria... Aprecia-se, se detesta, sinuosa vaga pelo ar esperando a hora certa, oportuna para lhe dizer: O que há com você? Salpicando intenções em vossa sopa de letrinhas cuidadosamente arrumadas. E a resposta? Dou-te a que você precisar! Pois, mais não vale um belo robô programado aguardando pelo tempo configurado do que um pensamento vago largado no cume de um monte tombado? Voa passarinho, voa! Leva o recado atado na pata à fonte em que pousar e matar a tua sede, pergunta se é de lá que vem a vida, amarra a resposta e esquece a volta, pois aqui ninguém quer ser vivente.



Meu irmão tranca o portão com minha mão, puxando o trinco enferrujado, de formato deformado pelo gume cego de um ferreiro maltratado, e mesmo assim, apesar dos pesares confesso! Sempre estive preso, mas nunca me senti prisioneiro! Afogando-me solto no salgado do mar sinto o doce da água que bebo! Arrasto daqui, arrasto de lá, que seja a bola, o tronco ou a cela, tanto faz... Arrasto o que tiver para arrastar. Como o tamboreamento no ritmo do compasso composto de um surdo, tão grave, grande, notável e audível... Apesar de estar mudo.


Devagar se fizeram todas as coisas já feitas, devagar encerramos, re-editamos e re-exibimos as novelas escritas na areia do mundo... E divagando os poetas da incerteza prosseguem corrigindo no texto os acentos que mudam o sentido de tudo.



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Desapegar... Por Corvius!

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Desapegar
Como é difícil desapegar... Aprendizado doído e muito sofrido.
Das coisas materiais, simbolismo e representatividade de nosso perfil no mundo, às pessoas/seres que tem uma história partilhada conosco.
Do filho que alça seus vôos para novos horizontes ao amigo que faz novos amigos e muitas vezes nesse novo agregar não nos cabe participar.
O mais fácil é deixar o ser amado livre para ir e vir ao sabor do vento. Ciúmes para que, se somos donos de nada e seres livres para experimentar cores e sabores...
De todos, o mais difícil é aceitar o tempo que cada um de nós tem para passar nesse mundo e se conformar com as partidas.
Uma vez alguém disse que essas partidas são como um navio que sai do porto e some no horizonte, ele não deixou de existir, em algum lugar estará lá, embora não o possamos ver, até o dia de regressar ao porto e quando todos nos encontraremos novamente.
Transpomos caminhos solitários e seguimos pelos mundos, porém fazemos parte desse mundo e podemos ser envolvidos pelas armadilhas do medo, solidão, tristeza, sentimentos que podem nos questionar sobre o que buscamos e quem somos.
Então entra o aprendizado do desapegar... Quem desapega não tem medo, medo de perder o que não se tem? Quem desapega não tem solidão, solidão de que, se já temos a amplitude?
Não há espaço nem lugar para tristeza para quem se desapegou...
Por isso a dificuldade do aprender, como é difícil e sofrido como uma borboleta que na luta para romper o casulo se fortalece e alça seu vôo.
Aprender e entender quando se deve lutar, enfrentar tudo que estiver pela frente e quando se deve deixar partir, libertar...
Que eu consiga romper meu casulo e voar com as borboletas nessa primavera.
Que Bel venha ao meu encontro aquecendo minha alma.
Corvius
http://mensagensdocorvo.blogspot.com/